O SONO DO ADOLESCENTE

 Nos últimos meses, os meios de comunicação têm repercutido um assunto que há décadas tem sido discutido na comunidade científica: como os nossos “relógios biológicos” controlam os ritmos diários e influenciam o nosso comportamento e a saúde. O sono do adolescente, em especial, ganhou destaque nas páginas dos principais veículos. Essa divulgação, em âmbito nacional, ganhou força após as intensas atividades realizadas durante a Semana do Sono, em março deste ano, que teve como slogan “Respeite seu Sono e Siga seu Ritmo”. Além da ampla repercussão do assunto na imprensa e nas redes sociais, as escolas de mais de 35 cidades brasileiras receberam cartilhas e visitas de especialistas que contribuíram para tornar público um problema já considerado saúde pública pela classe médica. “Durante a Semana do Sono foram coletados mais de dois mil questionários de adolescentes de diversas cidades do país para avaliar a qualidade do sono e ritmicidade biológica. Em breve, teremos dados concretos da qualidade do sono dos adolescentes do país que auxiliarão no diálogo com a sociedade e gestores educacionais”, informa a Dra. Paula Araujo, membro da diretoria da Associação Brasileira do Sono (ABS). A Campanha da ABS voltada ao sono do adolescente foi lançada em novembro do ano passado, com a publicação do Manifesto do Sono, elaborado pelos especialistas da entidade. No documento, a ABS propõe que o início das aulas para os estudantes do sétimo ao nono ano do Ensino Fundamental e dos três anos do Ensino Médio (adolescentes entre 13 e 17 anos) ocorra, preferencialmente, a partir das 8h30, para garantir um mínimo de quantidade e qualidade de sono e um bom processo de aprendizagem. A inciativa está alinhada à Academia Americana de Medicina do Sono e à Associação Americana de Pediatria, entidades que já tomaram posição semelhante. Os especialistas ressaltam no Manifesto o quanto a qualidade do sono interfere no rendimento escolar e explicam que os adolescentes entre 13 e 17 anos necessitam entre oito e 10 horas diárias de sono. Nessa fase, eles têm maior dificuldade em antecipar os horários de dormir e acordar para se adaptar aos horários escolares matutinos, principalmente os que se iniciam antes das 8h. A ABS acredita que, diante das mudanças que ocorrerão nos currículos escolares, as escolas caminhem para a adoção de horários flexíveis, que acompanhem a necessária flexibilização dos conteúdos e espaços de aprendizagem. Os especialistas sugerem que os gestores educacionais, em nível municipal, estadual e federal, em conjunto com entidades educacionais e organizações de professores, planejem ações voltadas à implementação de mudanças nos horários escolares. “Estamos cientes de que essas mudanças impactam diretamente na rotina dos familiares e das equipes pedagógicas e administrativas, entretanto, não podemos negar que este problema existe. Estamos à disposição para dar o suporte necessário a essas ações", conclui a médica neurologista Dra. Andrea Bacelar, presidente da Associação Brasileira do Sono.